Todo o mundo sabe o que é o Produto Interno Bruto (PIB) - aquele número que sinaliza como a economia está indo. Crescimento bom fica em 4% ou para cima. Estagnação fica entre 1-2%, e recessão é quando dois trimestres seguidos ficam embaixo de 0%. Ótimo. Agora vamos investigar o que está atrá deste número, como uma compreesão dele pode melhorar a qualidade de debates públicos, e qual é a situação atual do PIB no Brasil.
O que é o PIB & porque é Importante?
PIB é a produção numa economia dentro um prazo definido (e.g. um ano). Imagine, mesmo se seja sem jeito, que tiver um produto só na economia e o preço dele é R$ 10 por quilo. Se um milhão de quilos são vendidos nesse economia, o PIB calcula-se em R$ 10 milhão. Agora, supor que alguém inventa um novo produto no ano seguinte com preço de R$ 10 por quilo e quinhentos mil quilos são vendidos. Então, o PIB seria R$ 15 milhão e cresceu 50% entre esses dois anos (reeleja!). Bom, no mundo real, tem milhares de produtos, vendidos aos preços diversas. O PIB é o somatório de tudo isso. Se os preços sejam estáveis entre anos, crescimento no PIB significa que a economia está produzindo mais quantidade por cada pessoa (mais carros, mais geladores, mais casas, mais serviços de saúde e ensino, etc). Isso traduz em riqueza material, embora não seja exatamente bem-estar.
Nos últimos 80 anos, o PIB per capta virou uma das medidas mais importantes (até a medida de referência) para bem-estar. Mesmo assim, ouve-se frequentemente a critica que o PIB não mede bem-estar. Será que seja um erro grande usar PIB em estatísticas oficias? Numa crítica muito linda em 1968, o Senador Robert F. Kennedy observou que o PIB inclui ambulâncias para tirar corpos das estradas depois acidentes de carro, inclui vendas de cigarros que matam pessoas, processos industriais que causam poluição de ar, além de outros atividades que causam danos obvias ao ser humano. Igualmente, ele aponta, PIB não inclui coisas boas como inteligência nos nossos debates públicos, integridade dos nossos líderes, sabedoria, poesia, nem a força de nossos relacionamentos. Esse discurso é tão lindo que é uma pena como ele desentende a habilidade de riqueza material corrigir muitos desses pragas que ele cita. Essa ambulância está lá para ajudar com uma tragédia que ia acontecer de qualquer jeito. A invenção de tecnologia para limpar ar industrial e controlar poluição é crescimento do PIB. E contrário ao o que ele fala sobre sabedoria e inteligência pública, tudo isso vem de uma boa educação pública - que é um compromisso caro. Levando tudo em conta, o PIB tem áreas cegas mas ainda serve porque é possível medir e correlaciona muito bem com outras medidas de bem-estar como as de saúde, educação, e até felicidade subjetiva.
Mais um motivo que o PIB é importante: Verba Pública
Como já escrevi, o PIB é o tamanho da economia e o crescimento dele representa crescimento de renda/riqueza material na sociedade. Em muitos âmbitos da vida, é mais eficiente que os membros duma comunidade cooperam, formam um grupo, e contribuíram para juntar uma fatia da riqueza deles para comprar alguns bens como um grupo só. Esses contribuições viram dinheiro público e talvez eles contratam alguém para comprar essas coisas para eles (e.g. um prefeito). Segurança, bombeiros, estradas, e vigilância sanitária são exemplos de serviços que faz sentido comprar com dinheiro público. As coisas complicam quando tiver desigualdades nesse grupo - daí não é todo o dinheiro público que será usado pelos serviços públicos. Em vez disso, uma fatia do dinheiro público vai ser gastado nesses serviços e uma fatia será transferido para pessoas que compõem o grupo preferencial (e.g. idosos).
Independente do jeito em que o dinheiro público for usado, é importante por qualquer cidadão informado saber o tamanho das verbas disponíveis. O PIB nós orienta neste área pois é o teto teorético que a sociedade tem disponível para gastar no esférico privado ou público. Claro, um pais onde 100% do PIB fosse gastado pelo governo seria um país de uma carácter tão colectivo que seria desconhecido até agora na história do ser humano. Vamos pegar um exemplo mais representativo do mundo atual. Em 2011, o PIB do Brasil chegou ao R$ 4100 (Bilhão). Todos os governos (União, Estados, municípios) arrecadaram R$ 1570, ou seja, 38% do PIB. Mas para baixo neste artigo a gente vai ver que os governos brasileiros gastam em torno de 22% do PIB em serviços e administração, então isso significa que 16% do PIB é transferência pura. A maioria disso é previdência e segurança social com os programas como o Regime Geral de Previdência Social, COFINS, PIS/PISEP e CPSS, que chegaram em 11% do PIB em 2011.
Quase qualquer discussão inteligente e valioso sobre política doméstica no Brasil exige que os participantes têm conhecimento básico com os recursos públicos disponíveis. As pessoas que não têm ligado no orçamento público fazem dois tipos de erros. O erro mais comum na direita do espectro político é achar que a maioria do orçamento público é gastado em transferências para os pobres. A gente já viu encima que isso é longe da verdade. Ao outro lado, o erro mais comum na esquerda é não ter noção de que dinheiro público é um recurso limitado. Se a gente quer fazer com que educação pública seja uma prioridade fiscal, ótimo. Só que vai ter que aumentar os impostos (e.g. vai de 38% do PIB até 45% do PIB) ou gastar menos em outros serviços como saúde.
Se os eleitores não tem entendimento dos recursos públicos disponíveis e como esse dinheiro público realmente é gasto, fica muito fácil para políticos abusar essas desentendimentos orçamentais quanto na direita tanto na esquerda. Bom, vamos dar uma olhadinha no PIB do Brasil.
Os Métodos para Medir o PIB
Há três métodos de medir o PIB, dois deles trato aqui. A gente já tocou no método de produção encima, que é o somatório de todo que foi produzido e vendido na economia. Cabe dizer que esses preços incluem impostos, qual será óbvio bem logo quando a gente observe os números atuais. Porque tem tantos produtos, muitas vezes é mais fácil para dividir a economia em setores em vez de produtos. Em nosso caso, a gente vai usar os setores mais agregados do IBGE, que é agropecuária, indústria, e serviços.
Outro método para medir o PIB é aquele de "consumo." A ideia aqui é que o PIB é o que produzido e consumido no país, mais exportação, menos importação. Teoreticamente, isso seria igual ao somatório do que estava produzido no país. É comum ver esse método expresso como:
PIB = C + I + G + (X - M)
C significa consumo do consumidores, I é consumo final das empresas privadas (entendido como investimento). G é consumo do governo (consumo e investimento). X são exportações e M são importações.
Observações através dos Últimos Anos
A figura 1 mostra o caminho do PIB anual do ano 2000 até 2013. Esses números são em preços correntes (nominais), que são os preços daquele ano. Os dados vem do IBGE's Contas Nacionais Trimestrais. Em 2000, ficou em tornou de R$ 1200 bilhão e terminou 2013 a R$ 4800 bilhão. Saber esses números nominais é útil se você estiver pensando em um ano específico ou até falando em termos de porcentagem do PIB. Mas se você quiser fazer uma comparação através dos anos, um pouco mais trabalho é necessário.
Fig 1: Crescimento & Contribuição dos Setores em PIB (preços correntes) |
Talvez a característica mais importante do PIB Brasileiro nos últimos 14 anos é o crescimento dele e isso pede comparação através dos anos. Se os preços tivessem sido estáveis durante esse prazo, isso significaria que a produção do pais subisse (4800-1200)/4800 = 300%, ou seja - triplicou. Mas os preços não ficavam estável, e por isso a gente tem que os ajustar para enxergar o crescimento em termos "reais."
Tab 1 contém o PIB em preços correntes em coluna B. Esses números são exatamente iguais do que aparecem em Fig 1. Se a gente usasse o taxa de crescimento do PIB nominal (coluna C), os números seriam estratosféricos e falsos pois uma boa parte desse crescimento seria crescimento do nível dos preços - não de produção. Para corrigir esse problema, a gente coloca o PIB dos todos os anos nos preços de um ano só - o ano de referência. Neste caso, o ano de referência é 2000.
Tab 1
A. Ano
|
B.
PIB-Nominal (Bilhão R$ em Preços correntes)
|
C.
Taxa de Crescimento (Nominal)
|
D. Deflator
|
E.
PIB-Real (Bilhão R$ em Preços '00)
|
F.
Taxa de Crescimento (Real)
|
G.
Taxa de Crescimento (Real)
|
2000
|
1179
|
100,0
|
1179
|
|||
2001
|
1302
|
10,40%
|
109,0
|
1195
|
1,31%
|
1,30%
|
2002
|
1478
|
13,49%
|
120,5
|
1227
|
2,66%
|
2,70%
|
2003
|
1700
|
15,03%
|
137,0
|
1241
|
1,15%
|
1,10%
|
2004
|
1941
|
14,21%
|
148,0
|
1312
|
5,71%
|
5,70%
|
2005
|
2147
|
10,60%
|
158,7
|
1353
|
3,16%
|
3,20%
|
2006
|
2369
|
10,35%
|
168,5
|
1407
|
3,96%
|
4,00%
|
2007
|
2661
|
12,32%
|
178,3
|
1492
|
6,10%
|
6,10%
|
2008
|
3032
|
13,94%
|
193,2
|
1570
|
5,17%
|
5,20%
|
2009
|
3239
|
6,83%
|
207,1
|
1564
|
-0,33%
|
-0,30%
|
2010
|
3770
|
16,38%
|
224,1
|
1682
|
7,53%
|
7,50%
|
2011
|
4143
|
9,89%
|
239,7
|
1728
|
2,73%
|
2,70%
|
2012
|
4392
|
6,01%
|
251,6
|
1746
|
1,03%
|
1,00%
|
2013
|
4845
|
10,31%
|
270,7
|
1790
|
2,49%
|
2,50%
|
fonte:
|
Calculado
|
Calculado
|
Calculado
|
O Bando Mundial fornece algo que se chama o GDP deflator (coluna D), que é
uma proporção entre preços do ano a preços do ano referencial. Para
calcular coluna E, o PIB em termos reais, a gente divide o PIB em preços
corrente por o deflator. Agora, o PIB da coluna E fica em preços do
ano 2000. Em coluna F, a gente calcula a taxa de crescimento anual.
Por exemplo, a taxa de 2001 é ((1195-1179)/1179) = 1,31%. É este taxa
de crescimento que fica nos jornais e é discutido sempre em debates
políticas. Para validar nossas calculações, compare a nossa taxa de
crescimento real em coluna F com a em Coluna G. Coluna G é a taxa de
crescimento real, fornecido pelo Banco Mundial e deve ser a mesma coisa
da taxa do que a gente calculou. Fica bem perto, então a gente pode ter
algum confiança que todos esses números estão em concordância.
Tabela 1 é útil como referência pois mostra o PIB nominal e o crescimento real de 2000 até 2013. O PIB nominal é bom saber para discursos sobre dinheiro público e o caminho de crescimento real é bom para conversas sobre política econômica.
As Contas Nacionais e PIB nos Últimos 12 Meses
A gente pode aprender muito sobre a economia do Brasil com as Contas Nacionais Trimestrais, publicado pelo IBGE. Tabela 2 mostra o PIB entre Julho de 2013 e Junho de 2014 (12 meses), de acordo com os dois métodos de calculação do PIB que a gente tocou encima - o método de produção e o método de consumo.
Quanto o método de produção, Tabela 2 mostra a produção trimestral e anual de várious setores da economia. Da para ver que as setores agregados (agropecuária, indústria, e serviços) fica em acordo com Figura 1, que também divide o PIB por esses três setores. Agropecuária é 5% do PIB, Indústria é 20,7% do PIB, e serviços são 59,2 (quase 60%) do PIB. Não vou cobrir todos os setores aqui, mas vale a pena dar uma olhada na tabela só para ter uma noção de quanto as atividades comuns contribuiem à economia brasileira. Por exemplo, construção civil chegou a 223 bilhões de reais nos últimos 12 meses, ou seja - 223/4983 = 4,4% da economia. Ou o setor de produção e distribuição de electricidade (e gas e água e limpeza urbana) fica em torno de 100 B por ano. Recentemente as notícias sairam que o setor eléctrico tem custos elevados (por causa da seca) em torno de 16 Bilhão. Ou seja - isso é muito quando comparado com o tamanho do setor. Essas categorias são muito grossos, então só da para ter uma impressão básica com eles. As Contas Nacionais do Brasil que são divulgados cada cinco anos tem mais setores.
Tab 2
Brasil - Milhões de
Reais (Valores a Preços Correntes – R$ Bilhões)
|
||||||
Setores e subsetores
|
jul-set 2013
|
out-dez 2013
|
jan-mar 2014
|
abr-jun 2014
|
Anual
|
Anual %
|
Método de Produção
|
||||||
Agropecuária
- total
|
54.442
|
48.103
|
61.685
|
82.462
|
246.692
|
5,0%
|
Indústria
- total
|
268.578
|
269.006
|
240.972
|
255.003
|
1.033.559
|
20,7%
|
Extrativa mineral
|
45.993
|
48.391
|
47.273
|
40.136
|
181.793
|
|
Transformação
|
140.536
|
137.072
|
117.954
|
135.793
|
531.355
|
|
Construção civil
|
58.164
|
58.557
|
52.172
|
54.540
|
223.433
|
|
Produção e distribuição de
eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana
|
23.884
|
24.987
|
23.572
|
24.533
|
96.976
|
|
Serviços
- total
|
710.031
|
773.374
|
716.219
|
750.067
|
2.949.691
|
59,2%
|
Comércio
|
134.052
|
138.693
|
129.873
|
134.879
|
537.497
|
|
Transporte, armazenagem e correio
|
55.645
|
57.297
|
55.157
|
56.864
|
224.963
|
|
Serviços de informação
|
26.771
|
30.029
|
24.854
|
25.492
|
107.146
|
|
Intermediação financeira, seguros,
previdência complementar e serviços relacionados
|
70.695
|
71.938
|
73.133
|
75.023
|
290.789
|
|
Outros serviços
|
162.035
|
174.457
|
164.296
|
174.363
|
675.151
|
|
Atividades imobiliárias e aluguéis
|
85.825
|
88.413
|
90.260
|
93.439
|
357.937
|
|
Administração, saúde e educação
públicas
|
175.007
|
212.547
|
178.647
|
190.008
|
756.209
|
|
Valor adicionado a preços básicos
|
1.033.050
|
1.090.483
|
1.018.876
|
1.087.532
|
4.229.941
|
|
Impostos
líquidos sobre produtos
|
181.791
|
202.814
|
185.182
|
183.654
|
753.441
|
15,1%
|
PIB a preços de mercado
|
1.214.841
|
1.293.297
|
1.204.058
|
1.271.186
|
4.983.382
|
100%
|
Método de Consumo
|
||||||
Despesa de consumo das
famílias (C)
|
765.316
|
794.723
|
788.609
|
799.424
|
3.148.072
|
63,2%
|
Despesa de consumo da
administração pública (G)
|
253.405
|
333.384
|
242.678
|
271.808
|
1.101.275
|
22,1%
|
Formação bruta de capital
fixo (I)
|
231.332
|
225.542
|
213.127
|
209.805
|
879.806
|
17,7%
|
Variação
de estoque (I)
|
-3.703
|
-34.716
|
6.230
|
17.495
|
-14.694
|
-0,3%
|
Exportação de bens e
serviços (X)
|
165.389
|
169.910
|
140.837
|
158.856
|
634.992
|
12,7%
|
Importação de bens e
serviços (-) (IM)
|
196.898
|
195.547
|
187.423
|
186.202
|
766.070
|
15,4%
|
PIB Total (C+I+G+(X-IM))
|
1.214.841
|
1.293.297
|
1.204.058
|
1.271.186
|
4.983.381
|
100%
|
Fonte: Contas
Nacionais Trimestrais (CNT) do IBGE
|
O método de consumo (os últimos sete linhas da tabela 1) nós mostra as porcentagens do PIB que estão consumido por famílias (C), empresas (I), e o governo. Por exemplo, nós últimos 12 meses, o governo consumiu 22% do PIB, que é bem menos do que nossas estimativas da arrecadação, que fica em torno de 38%. O vão de 16 % é devido transferências - dinheiro arrecado pelo governo, mas devolvido aos cidadãos para gastar como eles querem. E como já escrevi encima, a maioria destes transferências são para segurança social e previdências (RGPS, COFINS, PIS/PISEP, CPSS).
As linhas que se referem às exportações e importações são útil entender o balanço de comércio exterior. Nos últimos 12 meses, por exemplo, tem importação de 766 B e exportação de 635 B, ou seja - um deficit de (766-635) = 131 B Reais. No longo prazo, combinado com capital líquido saindo do país, esse deficit pode exercer uma pressão forte para baixo no cambio. Mas pelo momento, o Banco Central parece comprometido e capaz de apoiar a taxa de cambio onde está - ou pelo menos evitar mudanças rápidas.
Recentemente, investimento público é um assunto de destaque na imprensa brasileira. Esse porcentagem de 17,7% na linha de "formação de capital bruto" é investimento privado, e ganha muito espaço nas conversas públicas. Por exemple, foi a meta do governo da Presidente Dilma atingir 25% do PIB, mas até agora essa meta não foi cumprida. Para ter chegado a 25% nesses últimos 12 meses, o setor privado do Brasil teria que ter investido em torno de 500 B mais do que investiu. Em outras palavras, tinha que aumentar investimento privado por 57% para atingir essa meta. Isso exige muito dinheiro e tem que vir de algum lugar. Ou esses verbas vem do setor público (na forma de novos impostos ou menos gastos em outras áreas), ou as famílias consomem menos e poupam mais para disponibilizar o dinheiro. Mais uma opção é empréstimos do exterior do país, embora R$ 500 B por ano fica além do que seria razoável pedir. Ouvindo dessa meta, qualquer jornalista com instrução em orçamento público vai perguntar imediatamente o que é o plano para atingir essa meta tão ousadia e de onde esse dinheiro virá. Acredito que isso seja um bom exemplo de como ter um entendimento básico do tamanho do PIB e as componentes dele pode desafiar os líderes não só para fazer promessas mas também para demonstrar planos realísticos para os cumprir.
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